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Guerra na Ucrânia leva operador logístico a rever destino de cargas

Os impactos dos conflitos no leste europeu na logística brasileira têm sido acompanhados pela Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (Abol), que monitora diariamente as sanções comerciais e econômicas adotadas pelos países à Rússia, assim como o posicionamento oficial do governo brasileiro. De imediato, as empresas com atuação internacional, filiadas à entidade, suspenderam, por tempo indeterminado, as operações na Ucrânia e países vizinhos, como a Bielorrússia. O fechamento de escritórios na Ucrânia também integra as medidas de alguns operadores.

De acordo com a diretora-executiva da Abol, Marcella Cunha, essas ações já causam efeito nos serviços expressos, ou seja, ligados à movimentação de pacotes, encomendas, correspondências e documentos. E a previsão é de que as consequências sejam significativas caso os conflitos se estendam por um longo período.

“Neste momento, inclusive, o foco dos operadores logísticos, cujos funcionários operam em portos, aeroportos, terminais logísticos, centros de distribuição, entre outros, da região, está na prestação de seus serviços apenas se feita de forma segura e, sempre que possível, sem interrupções”, disse.

Quando se trata das movimentações de comércio exterior, Marcella aponta os produtos que já foram impactados pelo novo cenário. Na última semana, no que se refere à exportação brasileira à Rússia, foram sentidas algumas reduções no volume de amendoim (de até -25% em alguns dias) e frango (de até -15% em alguns dias).

“São produtos importantes, que lideram a pauta de nossas exportações ao Leste Europeu”, destacou a executiva.

Nas importações, houve queda no fluxo de produtos como asfalto e agroquímicos em geral, especificamente fertilizantes.

“O volume de amendoim embarcado pelos operadores não é absurdamente grande, então os exportadores puderam se adiantar e segurar as exportações para Rússia e Ucrânia logo no início do conflito. Com isso, o que ocorre é carga de amendoim parada no Brasil, assim como outras, e, como consequência, redução de novos pedidos aos operadores logísticos. Isso significa que o volume maior está parado no Brasil, aguardando serem redirecionados a novos destinos ou maior segurança e garantias para serem enviados à Rússia”, explicou Marcella.

A realocação das cargas é uma possibilidade que já está sendo viabilizada pelos produtores. A diretora da Abol afirma que os exportadores estão renegociando seus contratos e buscando novos destinos, como Reino Unido, Europa e África (ajustando às exigências sanitárias que alguns deles impõem, inclusive).

“Trata-se de um momento em que o Brasil e as empresas devem rever a possibilidade de viabilizar a produção de fertilizantes internamente, ainda que as dificuldades naturais e de infraestrutura sejam um gargalo. Além disso, também serve como um lembrete de que as estratégias de ‘global sourcing’ (ou seja, a estratégia de focar em fornecedores diferentes pelo mundo) de insumos, produtos e serviços devem ser continuamente revistas, na tentativa de dirimir riscos em torno do negócio, principalmente em situações imprevisíveis e de incertezas, como a que estamos vivendo agora”.

Já segundo o superintendente-adjunto para Inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz, o “empresariado brasileiro precisará reduzir custos e inovar para enfrentar impactos econômicos da guerra na Ucrânia”.

“Mesmo que o conflito terminasse hoje, o impacto sobre a economia brasileira seria dramático e relevante, atingindo diversos segmentos. Os setores da construção, de petróleo, o agronegócio, o agropecuário e o têxtil sentirão os efeitos do conflito que ocorre do outro lado do planeta”, alerta.

O economista lembra que a lista de derivados do petróleo vai muito além da gasolina e do diesel – que acabam de sofrer forte reajuste -, uma vez que o agronegócio, por exemplo, usa fertilizantes derivados deste recurso fóssil.

“Não será somente o agronegócio o segmento afetado pela crise, uma vez que a indústria automobilística usa também resinas combustíveis para a fabricação de consoles, forros de portas e parachoques”, destaca.

Braz ressalta que “estes preços não são regulados e, à medida que as cotações dos derivados de petróleo batem recordes e se estabilizam em patamares muito acima, por conta dos embargos impostos à Rússia – e de Moscou para os grandes mercados -, essa nova realidade tende a ser mais duradoura e não será somente um breve período de incerteza, com ruídos de curto prazo. Eu acho que a redução de custos está na cartilha do empresário moderno e consciente que vislumbra a oportunidade de aumentar sua produtividade, diminuindo gastos”, afirma. Nesta lista estão medidas como comprar maquinário mais eficiente, adotar fontes de energia renováveis, treinar a mão de obra ou investir em tecnologias que evitem a depreciação de seus equipamentos e máquinas.

Ao observar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), pode-se pensar que o diesel tenha pouca influência nos preços porque as famílias não têm carro com esse tipo de motor mais pesado. No entanto, para a atividade produtiva, este combustível é muito mais importante do que a gasolina.

“Basta olhar a frota de transporte de carga e a influência dos caminhoneiros. E ainda os tratores e máquinas do agronegócio e o transporte público nos grandes centros urbanos. Tudo isso é diesel na veia. Assim, este combustível é o maior vilão, porque causa uma inflação que a gente não percebe mas está no nosso dia a dia. Se você vai comprar uma couve na feira, o preço dela estará influenciado pelo frete que a levou até a barraca”, concluiu André Braz.




Fonte: Monitor Mercantil

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