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Catraias: tradição secular no Porto de Santos e transporte a 8 mil pessoas por dia

O colorido das catraias representa um elemento importante na paisagem do Porto de Santos. O barco a motor, que comporta até 17 passageiros por viagem, é descoberto e faz parte da rotina diária de oito mil pessoas, em média. Na rota, um trajeto de oito minutos entre Santos, junto ao Mercado Municipal, na Vila Nova, e o Distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá. Para comandar as embarcações, com chuva ou sol, estão os catraieiros, cumprindo uma tradição de transporte que já ultrapassou 100 anos.

Joaldo Fontes, de 53 anos, e Valdecy Norberto dos Santos, de 60, são dois que se dedicam à atividade há décadas. Joaldo herdou a vocação do pai, que ficou 45 anos na função até morrer, em 2008. “Ele trouxe a mim e o meu irmão. Nos criamos praticamente aqui. Eu já estou 33 anos como catraieiro”, conta. Ele, porém, não fez o mesmo com o filho. “Não tem que ser nada forçado. Tem que ser natural, igual ao meu caso e do meu irmão. Meu filho está fazendo Engenharia e não gosta do ramo marítimo. Já minha filha é dentista”.

A entrada de Valdecy dos Santos na área marítima ocorreu há 23 anos, em 2000, de uma forma bem diferente.

“Desde os 14 anos, trabalhava na construção civil. Sou pedreiro profissional também. Ingressei na área marítima por um colega, em um campo de futebol. Fui jogar bola e fiz amizade com um dos catraeiros que está até hoje aqui. Tinha uma carteira de pescador profissional, que fui transferida junto à Marinha para outros níveis. Também trabalhei em empresa de dragagem e na travessia de balsas entre Santos e Guarujá. Aqui foi o início de tudo. Amo isso aqui”.

Os principais problemas das catraias estão ligados às condições do tempo e, por consequência, da maré. “Há embarcações que excedem o limite de velocidade, vem a marola e fica complicado. Em uma ocasião, o navio estava passando, a maré vazando, chovendo e o rebocador vinha em alta velocidade. Fez aquele rolo de marola enorme. Passei um perrengue danado. Mulheres choravam. O pessoal tem medo de cair na água”, conta Valdecy.

Os catraieiros também pedem que o entorno passe por alterações, o que está acontecendo. “Vamos ver se melhora com essa revitalização do Mercado Municipal e a passagem do VLT aqui perto (na Rua Dr. Cochrane)”, projeta Valdecy, apontando e pedindo solução relacionada às pessoas em situação de rua que ficam abrigadas no terminal de passageiros da Bacia do Mercado, de onde saem as embarcações.

Como funciona

O sistema de catraias está disponível diariamente, sem parar. O funcionamento é diferenciado nos domingos e feriados, quando há embarcações saindo a cada 20 minutos, o que também acontece diariamente de 0h às 5h. De dia e à noite, as catraias são divididas em dois turnos, cada um com 20 barcos: um das 5 horas às 14h30 e outro das 14h30 à 0 hora. “Antes da pandemia, aqui atravessavam, em um média, umas 12 mil pessoas por dia. Na época, as 40 catraias trabalhavam o dia todo, ininterruptamente”, lembra Valdecy.

Não há subsídio para o transporte de catraias. Os custos com as embarcações, como abastecimento e manutenção, são bancados pelos próprios catraieiros. A passagem custa R$ 2,75, tanto para quem sai de Santos quanto de Guarujá. Vinte e três por cento do arrecadado diariamente vai para cobrir os gastos da Associação dos Mestres Regionais Autônomos do Porto de Santos, que representa esses trabalhadores e tem sede em Vicente de Carvalho. O restante do dinheiro é dividido entre todos.

“Tirando o combustível, o que sobra é dividido entre as 40 embarcações que trabalham no dia. Dá para se manter. A bem da verdade, trabalhador não fica rico”, completa Valdecy.






















Fonte: A Tribuna

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