top of page

Caminhoneiros ganham a vida ligando o Brasil de ponta a ponta por meio do Porto de Santos


As cargas se encontram no Porto de Santos. De todo tipo. E as gerações também, não importando a profissão. É o caso dos caminhoneiros, parte fundamental da engrenagem do transporte da economia brasileira. Entre viagens próximas ou longas, todos seguem fazendo sua vida financeira e passando pelo maior porto da América Latina, como Lucas Bernardes e Luciano Valdir Dabague.

Embora de regiões e idades diferentes, a história do início na atividade é semelhante - e o Porto de Santos faz parte desse roteiro. Mineiro de Carmo da Mata, a 170 km da capital Belo Horizonte, Lucas tem 35 anos e há 16 é caminhoneiro. “Meu padrinho mexia com caminhão. Eu gostava disso e comecei a viajar com ele. Tirei habilitação com 18 anos, mas com 15, 16 já estava viajando com ele. Guiar, só depois que tirei a carta”, lembra.

No caminhão de Lucas, propriedade de uma empresa, a carga recorrente é grafite, carregada no terminal da Santos Brasil, em Guarujá, e levada para a capital de Minas Gerais, em viagens que levam de 10 a 12 horas. Há sete anos ele vem duas vezes por semana à região.

“Nunca parei para contar as horas de trabalho porque não tem hora certa. Paro só para dormir umas cinco horas e meia por dia. O resto é dirigindo”, comenta o caminhoneiro, que tem uma filha de 5 anos, mas não é casado. “Todo fim de semana fico com ela (a filha)”, detalha.

A liberdade de destinos e a falta de compromisso com a marcação de ponto são os motivos que levaram Lucas Bernardes a virar caminhoneiro, mediante uma recomendação básica. “Tem que se fazer por amor. Se fizer por dinheiro ou outra coisa, não aguenta não. Se for pensar só em dificuldade, a gente não faz nada, mas o caminhão é um pouquinho mais difícil”.

Lembranças e emoções

Amigos, primos e um irmão de Luciano Valdir Dabague, de 63 anos, lidavam com caminhões. Foi o impulso para que ele seguisse o mesmo caminho há mais de quatro décadas.

“Mexo com mecânica também. Uma coisa foi impulsionando a outra. Tive oficina e já era mecânico quando servi o Exército em Caçapava (Interior de São Paulo), pois tinha feito o curso do Senai. E comprei, quando era novo, meu primeiro caminhão, depois de trabalhar em várias empresas”, relembra.

Paulista de São Caetano do Sul, cidade da região do ABC, Luciano tem nos contêineres cheios de maquinário sua carga mais frequente. “Já puxei também carga solta do Porto de Santos, mas hoje em dia é mais contêiner mesmo. Eles são levados para muitas cidades do País, como, por exemplo, de Ribeirão Preto e Brasília”, detalha.

Em meio à grande concorrência de mão de obra no setor, o caminhoneiro consegue fazer de três a quatro viagens semanais ou menos. Tudo depende da “sanfona” da economia. “O Porto de Santos é economia. Se ela está de vento em popa, trabalhamos da mesma forma. Se estiver ruim, não conseguimos trabalhar para pagar as dívidas”, afirma.

Com os “calos de caminhão” nas mãos, outras marcas também permanecem em Luciano. Em um momento de emoção, o caminhoneiro tira os óculos e embarga a voz. Era a recordação do filho Fernando, morto em um acidente com o veículo e que completaria 45 anos no dia 4 de julho.

“Ele era torneiro mecânico e trabalhou na profissão dele, mas gostou do que eu fazia e me seguiu um pouco. O dele não era carreta (ideal para viagens em longas distâncias em rodovias) e, sim, truck (usado em áreas urbanas e para entregas regionais). Tenho uma filha, dois netos e uma bisneta. Deus me deu essa dádiva de conhecer essas pessoas”, conta.

Casado com Geni há mais tempo do que a idade do saudoso filho, Luciano lembra das muitas vezes em que largou a família para viajar com o caminhão em prol do sustento de todos.

“A vida continua e estou na luta. Não viajo mais constantemente para longe, mas a profissão é boa. Sigo um pouco pela idade, afinal não conseguiria emprego aos 63, quase 64 anos, o caminhão ainda é praticamente novo para a realidade de nosso setor (de 2009) e já me acostumei um pouco nessa vida, sempre tentando fazer alguma coisa para tratar da família”, finaliza.












Fonte: A Tribuna

Comments


bottom of page